Perdido na Própria Casa
João sempre foi um homem metódico. Tinha uma rotina fixa, sabia exatamente onde guardava cada coisa e dificilmente mudava algo em sua casa. Seu pequeno apartamento era organizado como um relógio suíço – ou pelo menos era assim que ele pensava.
Tudo começou numa noite comum. João chegou do trabalho cansado, jogou as chaves na mesa da sala e foi tomar um banho. Ao sair do chuveiro, foi até a cozinha para pegar um copo d’água. Mas, estranhamente, os copos não estavam no armário de sempre.
— Mas que estranho… — murmurou, abrindo todas as portas dos armários. Nada.
João franziu a testa e riu de si mesmo. “Devo ter guardado errado.” Foi até a sala, mas, no meio do caminho, notou algo ainda mais esquisito: a mesa de centro parecia deslocada alguns centímetros para o lado.
— Será que estou tão cansado assim? — perguntou a si mesmo.
Ele ignorou o incômodo e foi para o quarto. Mas, ao abrir o guarda-roupa, levou um susto. Suas roupas estavam misturadas, algumas peças que ele tinha certeza de nunca usar estavam penduradas à vista, enquanto as favoritas sumiram.
O desconforto aumentou. João percorreu o apartamento tentando entender o que estava acontecendo. Os quadros pareciam ligeiramente fora de posição, os livros na estante estavam desorganizados, e a sensação de que algo estava diferente se tornou esmagadora.
Sentou-se no sofá, passando as mãos pelo rosto. “Será que estou enlouquecendo?”
Então, um pensamento inquietante surgiu: e se essa não fosse sua casa?
O coração disparou. João correu até a porta e tentou abrir – estava trancada. Vasculhou os bolsos e encontrou suas chaves, mas, por um instante, hesitou. E se, ao abrir a porta, ele descobrisse que estava em um lugar completamente diferente?
Respirou fundo, girou a maçaneta e saiu. O corredor do prédio estava igual, mas João sentia que algo ainda não fazia sentido. Voltou para dentro e, ao olhar ao redor, sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Nada tinha mudado, mas, ao mesmo tempo, nada parecia seu.
João estava perdido. Não em outra cidade, não no meio de uma floresta. Mas dentro da própria casa.
Reflexão
Quantas vezes nos sentimos assim na vida? Perdidos em um lugar que deveria ser familiar, como um emprego, um relacionamento ou até mesmo dentro de nós mesmos? Às vezes, a vida muda sutis detalhes ao nosso redor, e só percebemos quando tudo parece estranho demais.
Se já se sentiu assim, talvez seja hora de reorganizar não só sua casa, mas também sua mente e suas escolhas. Afinal, o pior tipo de desencontro é aquele que temos com nós mesmos.
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